Não vou me lapidar feito diamante, para aparar minhas arestas.
Não vou me encolher feito feto no espaço apertado e quente do útero, eu quero é me espreguiçar.
Não vou deixar meu vinho sangue para engolir, seco , incolor, aquele vinho branco, quente e sonso.
Não vou ouvir jazz e cantarolar bolero, eu quero o tango carmim, quente e penetrante, entrando nas minhas entranhas.
Abandono a princesa delicada que espera seu príncipe, eu quero a índia, nua, crua, dona de si, eu quero a mulher profana e meretriz, que se lança na cama da noite, e dança feito naja no colo do amante (sedento de seu veneno).
Não quero a máscara estúpida e oca da civilização, quero as caretas e loucuras de meus instintos, sem disfarces, mesmo que o preço seja alto. Eu pago.
Não quero a garoa fraca e mórbida de dias nublados, eu quero a tempestade, aquela que molha as vidraças, que lava a alma e fecunda a terra, água fértil, e desenfreada, que não acha limites, absoluta.
Eu quero a essência contida no frasco da liberdade, quero me embriagar de vida e me vestir de alma, eu quero a lua.
***
[Pâmela S. Melo]