domingo, 18 de novembro de 2007

Das coisas que ficam


Com você eu aprendi sobre a Dança do Universo e de como alguns outonos são plenos de manhãs indóceis.Aprendi a desatar o choro amolecido na garganta e a enfeitar a casa com flores simples, do campo.
Ingressei em noites sem estrelas iluminadas apenas pela ponta de um cigarro aceso. E amanheci entre borboletas azuis e flores roxas sem nenhum odor, mas com o cheiro de chá de erva cidreira inundando toda a casa.E você vibrava em verde curando as mesmas páginas que feria.
Compartilhei o meu suor íntimo e fértil e tudo nos parecia tão sagrado que eu desviava o meu olhar da dor.E fui me desapegando do desamparo cuidando do manjericão que plantamos juntos: pela primeira vez na vida eu via uma coisa bonita e palpável nascer.
Você me dissertou sobre bichos, plantas e marés.E adormeceu minhas angústias cantarolando aquela música tão desbotada.
Aprendi sobre como a escuridão pode ser suave aos olhos. E de como certas chuvas podem ressecar por dentro.Aprendi a cuidar deste solo seco e a relatar sonhos enquanto abria as janelas da casa. Aprendi a dar outros nomes pro abandono.
Com você eu aprendi que uma bicicleta amarela podia trazer com ela tudo aquilo que mantinha espesso o meu desejo...

[Marla de Queiroz]
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(Hoje sou flor que ignora os espinhos do coração e pede o afago doce e seguro do amor, que há muito está adormecido...)

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