domingo, 10 de agosto de 2008

Das delicadezas


As minhas flores eu rego, podo e converso. Dou-lhe o sol medido para não ferir-lhe as pétalas, delicadas tão.

E não é que somos todos flores e jardineiros? Regamos e damos luz aos nossos afetos e amores. Esperamos o mesmo em troca! Queremos carinho, colo, atenção e cuidados!

Uma ligação em uma madrugada esquecida. Um bolo de nozes em uma data em que a única comemoração viável seria a de estarmos vivos. Um mimo para os olhos em dias em que o cinza enegrecido de desânimo é o ar mais abrangente. Um colo. Um afago. Um sussurro. Uma brisa cheirosa que vem dele.

Descobri que tenho medo de ser cuidada! Terrível descoberta. Percebi que entro em pânico quando espero atenção e mimos de algum jardineiro! Quisera eu ser uma flor do campo! Daquelas que nascem do acaso. Crescem apenas com o cuidado dos Anjos. Porque eles sim são confiáveis. Anjos não decepcionam. Eles têm o ninho azulado que acalenta qualquer choro. O colo lilás que perfuma a nossa manha e alisa nossos cabelos como quem borda o mais fino tecido.

Não, eu não sou uma orquídea! Não preciso de apoio para buscar a luz. Eu sei o caminho. Eu vejo a direção. Eu sinto o vento.
Mas sou uma flor manhosa, cheia de dengos e desejos. Uma flor que não perfuma qualquer brisa. As minhas pétalas são cintilantes e rosadas. Mas meu brilho não é visível a qualquer jardineiro. Só aquele mais primoroso e paciente conhece meus encantos e meu pólen.

Não sei não, talvez só os anjos saibam do meu olor de flor...


Nenhuma múmia se mexeu
Nenhum milagre na ciência aconteceu
Nenhum motivo, nem razão
Quando a saudade vem não tem explicação

Só chamei porque te amo
Só chamei porque é grande a paixão
Só chamei porque te amo
Lá bem fundo, fundo do meu coração”

(Gilberto Gil)
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E você não me venha com flores amanhecidas. Não seja atrasado, Baby. Meu jardim não é feito de descasos e desatenções. Eu quero lírios - não capim!

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